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Doth in Rio 1="Meus dias de indigênte"

domingo, 25 de março de 2012.
Hail Mott!!! Ave Butler!!!


O artigo de hoje não vai ter oferecimento engraçadinho, pois trata-se de um tema muito sério. Poucas vezes a vida nos dá a oportunidade de sentir na pele a dor do outro e dessa vez a experiência foi bem servida. É também um mais que devido sinal de vida, pois ainda não tinha tido tempo e humor para voltar a postar.

Para os que ainda não sabem, mudei-me de mala-e-cuia para o Rio de Janeiro. Caí na loucura de  apear do ônibus e ir  direto ao IFCS (Instituto federal de Ciências Sociais) da UFRJ, sem ter garantido um teto para morar, pois devido a enorme rotatividade e procura por imóveis, especialmente para estudantes de fora, achei que seria mais facil tratar pessoalmente com os proprietários. Na pratica, passadas mais de 2 semanas ainda não achei um teto e as vezes me dá um "surto", vontade de voltar para casa da minha mãe, saudades dos laços de amizade quebrados repentinamente e de forma violenta (o que chamo ironicamente de "efeito Big-brother") medo de passar fome e não ter ninguem para me amparar, medo de não ser aceita pela instituição na qual sonhava em entrar.

Mas qual o assunto tão sensivel que venho tratar hoje?

Ano passado já tinha vindo ao Rio tratar de outros assuntos (sentimentais, inclusive) e aproveitei para tatear o terreno e ver se conseguiria me adaptar por aqui. Foi uma viajem maravilhosa, porém o cidade que havia conhecido então era totalmente diferente. Conheci-a.sob o prisma de umx turista que se se hospeda por tempo limitado num albergue juvenill próximo a praia de Copacabana, tudo naquela ocasião se resumia a tomar banho de mar e dar uma fugidinha pela região central de Niterói, atravessando o mar nas agora caríssimas barcas.

Mas o Rio que conheci desta vez é o do Centro da cidade, já que estudo no Largo São Francisco. O que mais me chamou a atenção até agora foi justamente o grande número de moradores de rua que dormem o dia todo na frente da faculdade, e a reação dos estudantes e transeuntes, a priori fria e conformista perante este quadro de miséria que já não ousa bater nas suas portas.  Para que o individuo seja considerado humano, precisa ter o acesso a um genero, para que seja considerado cidadão, precisa ter acesso a um nome e um endereço. A pessoas trans não tem acesso a nada disso, muitas nem a um endereço.

O paradoxo é que na minha cidade de origem quase nao se vê mendigos na rua. Sendo a capital mais fria do Brasil, é comum a temperatura estar abaixo de zero no inverno e sendo também a capital de um estado assumidamente fascista, é possivel imaginar um processo de limpeza social com a conivência dos moradores e das autoridades. Sinceramente, me pergunto o que seria "menos pior". E com certeza não teria parado para pensar nisso, se não tivesse me confrontado de forma tão crua com esta realidade. E para completar, a experiência de me obrigar a morar de favor na casa dos colegas de faculdade,  tem me dado a oportunidade de sentir na pele o que é não ter um teto, de me colocar na pele daquelas familias que brigam por um espaço no chão de pedra da praça, em torno da imponente estátua de José Bonifácio, um amigo que nunca poderão conhecer, pois jamis entrarão numa escola publica, muito menos no prédio que usam como travesseiro; o unico sinal de que a municipalidade ainda não os abandonara por completo; a espera da polícia, cada vez mais autoritária que um dia os virá buscar. Nada como sentir na pele...

Copacabana, aqui "trombadinha" não entra.
Lembro-me de um debate acalorado que pude presenciar no ano passado, quando uma professora e uma aluna da UFPR (advinda de um dos mais caros colegios particulares do Paraná) defendiam a lógica meritocrática segundo a qual "todos têm a mesma oportunidade, basta estudar". Talvez elas não possam entender a que me refiro, pois provavelmente tenham vindo ao Rio só a passeio e tenham conhecido apenas os cartões postais, as praias da Zona Sul, os bairros boêmios da Lapa e Santa Tereza. Mesmo assim faço meu desafio: eu queria ver se um dia um desses "trombadinhas" (como chamam pejorativamente os moradores de rua por aqui) fizesse uma prova do Enem ou o vestibular e passasse, se o individuo seria aceito em sala de aula, junto com os colegas do Leblon ou da Gávea. Quero ver como fará para ter acesso aos caríssimos "xerox" que precisamos para estudar.

Felizmente minha nova aventura no Rio tem servido para mostrar a realidade nua e crua das grandes cidades, aprender a dar mais valor às minha coisas e as pessoas. Enquanto sonhamos em ter bens materias e fetiches de consumo, em galgar altos postos na hierarquia acadêmica, em fazer carreira e sermos "autoridades em alguma coisa", algumas pessoas já desistiram de sonhar com um teto, ou já não contam com um prato de comida. Me ver como uma 'trans', jogada no relento duma praça, sem saber o dia de amanha certamente foi uma das experiencias mais chocantes da minha vida. Agora voltarei a chorar no meu travesseiro, que ainda não é de pedra.

Pensem nisso,

Desbundái.

ADENDO IMPORTANTE= Atualmente consegui uma vaga "mocada" no alojamento estudantil, graças a alguns comopanheiros militantes e à  proverbial hospitalidade do povo carioca. Anyway, o objetivo desse desabafo era trazer uma critica social sobre essa questão tão sensivel que é a dos desabrigados. Agradeço a torcida, a preocupação dos amigos e os votos de sucesso. Minha conta é Banco do Brasil24515485, agencia 5482-X. Obrigada hahahahaha
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