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REPOST: Nada como sentir na pele- parte 2: "cansei de ser celebridade"

domingo, 26 de maio de 2013.
Ave Butler! Hail Derrida!

REPOSTAGEM DE UM TEXTO QUE ESCREVI A ALGUNS ANOS, COM COMENTÁRIO DE UM AMIGÃO COM QUEM BRIGUEI FEIO E CORTEI RELAÇÕES (ADIVINHEM...) PORQUE "SURTEI" COM ESSE TEMA, FIZ MUITA CAGADA, CULPABILEI GENTE QUE NÃO DEVIA E ACABEI MAGOANDO AS PESSOAS QUE  MAIS AMO. ENGRAÇADO COMO ESSA COISAS ACONTECEM NAS NOSSAS VIDAS. MENINO GUERREIRO, SUA AMIADE É MUITO IMPORTANTE PRA MIM, TÔ COM MUITAS SAUDADES.

OBS: Aqui apresento várias criticas à psicólogos com quem tive experiencias horriveis o passado, meu atual terapêuta (que com certeza vai ler) é um amor e está me dando a maior força

Nada como sentir na pele- parte 2: "cansei de ser celebridade"


“O ser humano é sádico e cruel, e coisifica, descarta o próximo, tudo sob a hégide de uma suposta “liberdade””(Dorothy Lavigne)



(em memória de Amy Winehouse e de tantos outros seres humanos que jamais chegarei a conhecer e admirar)



Nunca fui fã da Amy, ou de qualquer outra “diva” da musica POP internacional. Meu lado “crica musical” nunca me permitiu admirar este tipo de arte e sou da opinião que a “boa musica” é como um bom vinho- quanto mais velho, melhor. Mas não vim aqui falar de música, vim falar sobre seres humanos, vim falar sobre dor e sobre violência.

Quem tem acompanhado este blog deve se lembrar do artigo que escrevi denunciando uma agressão física de motivação transfóbica que sofri a pouco mais de 2 meses. Em suma, pude observar o que para mim já era evidente: a inoperância da policia- até hoje o BO que fora registrado no 1º DP não chegou ao 3ºDP, e as nossas “queridas” autoridades ficaram jogando a bomba uma no colo da outra este tempo todo. Desisti de ver qualquer um dos agressores punido. Ate porque minha experiência como militante me ensinou que de nada adianta punir um ou outro “pitboy”, enquanto estiverem a solta Bolsonaros e Malafaias.

Mas vou falar agora de outro tipo de agressão, aquela que é tão invisível que nem os próprios agressores percebem-na como tal. Este vai ser um desabafo e um puxão-de-orelha.

Recentemente estive presente num encontro do movimento estudantil, espaço no qual pude perceber o quanto as pessoas me prestigiam, onde pude me dirigir à platéia na qualidade de “transexual militante”. A mesma oportunidade tive na Marcha das Vadias ao denunciar, como já de costume, a intransigência e a fiscalização policialesca das Identidades de Gênero, colocadas em pratica pelo SUS, através do Processo Transexualizador.Pois bem, pesa-me dizer que tal exposição da minha pessoa está me fazendo muito mal.

Quando fui espancada naquela triste noite, não cheguei a sentir tanta dor como alguns poderiam imaginar, ou como sentiram os colegas que passaram pela mesma experiência. Estava internamente “dopada” pela dor e achei que do ponto de vista subjetivo, foi dos males o menor. Algumas semanas antes escrevera para o mesmo blog uma Carta de Amor que poucas pessoas leram e ninguém comentou- e mesmo as que leram não entenderam. Afinal, qual a importância para defesa dos direitos LGBT de um@ militante reclamar da falta de carinho, da solidão, e meramente revindicar o mesquinho direito de se apaixonar e de sonhar- mesmo sem ser correspondida? 

Talvez para a maioria dos que me lêem agora isto seja algo sem valor. Para mim, não. Cada um sabe onde dói e este é e sempre foi meu ponto-fraco. Para quem sente na pele o pesadelo da fome o sonho-de-cada-dia é um prato de comida. Para pessoas mal-amadas e solitárias (e não tenho mais medo de me assumir como tal) são os episódios felizes e de romântico companheirismo, beijos, abraços, quem sabe, talvez sexo com a pessoa amada. Como já afirmara em outra ocasião, para grande parte da população TTT, o companheiro, o amante é o cliente- num país onde celebridades pegas saindo com travestis vão a publico se desculpar afirmando que aceitaram o programa achando que eram mulheres e onde piadinhas com transex são consideradas socialmente aceitáveis. 

O mais revoltante é que sempre vai haver um psicólogo ou um defensor das “virtudes libertárias” contemporâneas para nos culpar pela suposta baixa “auto-estima”, ou coisas piores. Para os colegas de militância que ainda não entenderam, minha fala não era uma denuncia e sim, um pedido de socorro.

Voltando a minha fala sobre a recente morte da cantora Amy, cuja obra não apreciava, mas cuja triste historia acabou por me sensibilizar, revolta-me ouvir que ela teria morrido de overdose. Ninguém morre por causa das drogas, simplesmente pelo mesmo motivo que ninguém as utiliza meramente por prazer, mas sim, para enganar a dor. Provavelmente (e isso é uma possibilidade) precisava se “dopar” porque não agüentava mais rolar na cama a noite e perceber que, apesar de todo paparico dos fãs e das perseguições dos paparazzi,não havia a quem abraçar, não conseguiria sentir calor humano. Mas “subjetividade e solidão não dão IBOPE e queremos ver sangue”.

Ontem quando voltava para casa dos meus passeios noturnos vi uma cena que me deixou extremamente perplexa. Um dos amigos que me defenderam no outro dia, estava se distanciando da turma e o que corria é que ele estaria indo cortar o próprio braço para concentrar a dor psicológica criando um ferimento físico, pois tinha acabado de ver um ex-namorado com outro. Ninguém quis socorrê-lo, fomos cúmplices pois entendemos que era a forma que a pessoa tinha de lidar com o próprio sofrimento. Quanto a mim eu jamais teria esta coragem, mas sinceramente ainda acho preferível este tipo de auto-ajuda a um psicólogo fazendo lavagem cerebral na cabeça das pessoas, culpabilizando-as pela própria dor, afinal para grande parte desses profissionais a nossa sociedade é sempre perfeita e as pessoas simplesmente não têm o direito de serem tristes. Algo muito terrível aconcetece com nossa sociedade e nossos jovens e ninguem quer ver.

O que eu queria mesmo era que as pessoas parassem de me reduzir a uma simples “militante” um “objeto político”, ou alguém que escreve bons textos num blog . Não sou isso, alias, me vejo como uma pessoa extremamente egoísta que só consegue se indignar quando o problema me atinge diretamente. Queria que não tivessem me dito que sou a “mulher mais forte que conheço” quando me dou ao luxo de, num momento de fraqueza, “reginaldorossiar”, me embebedar para poder colocar para fora as minhas lagrimas presas a meses. Queria que não tivessem me dito que sou “o orgulho da delegação de Curitiba”. O orgulho não vai preencher meu coração, enquanto abraço o ar a procura de um corpo que está a centenas de quilômetros de distância e que é feito de pura saudade e desejos que talvez nunca se concretizem. Queria ter o direito de me olhar no espelho e me ver como sou: uma pessoa desprezível, fraca. medíocre e rejeitada pelos meus pares. Sinceramente, trocaria se pudesse cada vão elogio por um beijo ou um abraço daquel@ a quem amo, solitariamente, e com quem ainda sonho.

Quanto a pessoa amada, aquela@ a quem tinha escrito a tal Carta de Amor, recebi mais um “não”, mais uma vez não me seria dada a oportunidade de levar adiante um bela história de amor, algo que sempre sonhei e nunca pude ter. mas aprendi que na vida quando caímos só temos uma opção que é de levantar e continuar. No fundo a tal pessoa, a quem continuo amando a minha maneira, até não me tratara tão mal, considerando outras tentativas nas quais as pessoas simplesmente saíam correndo ao perceber minha condição de “trans”. Acho que realmente uma pessoa que tenha tido tal honestidade sem se afastar é digna da minha sincera amizade, a qual tenho a mais sincera vontade de continuar cultivando. Mas sempre será coisa da minha cabeça, uma dor menor (como se mede isso?), sempre haverão comparações infelizes a serem feitas.

Em suma, prego que de nada adianta fazer frente contra a discriminação e contra a opressão, seja ela qual for, se não se (re)humanizar as pessoas. De nada adianta aplaudir belas frases classistas se não temos coragem de abraçar os companheiros, mesmo que não entendamos seu sofrimento. É um erro pensar que não há opressão fora da luta de classes, ou fora da denuncia do machismo, por exemplo. Se você acha que violência só existe quando sangra, sinto muito, você é tão cruel e perverso quanto qualquer um dos “pitboys” que atacam vitimas indefesas nas nossas ruas escuras.

*Clipe em ritmo de dor-de-cotovelo:


Comentários do Menino Guerreiro:

"Doth, o que te dizer? Dizer que nem sei por onde começar é dizer o óbvio. Então vamos tentar.É claro que não posso te dizer que sei o que vc está sentindo, pq não sei. Somos pessoas diferentes e isso nos torna únicos. Mas com certeza, reconheço tuas dores. Te garanto que vc me enganou direitinho: nunca pensei te "ler" tão tristinha, tão romântica. Issó é bom, acredite! Como um "FTMemo verdadeiro" sempre acreditei que solidão é angustiante e a vida sem amor não vale a pena. Carinho e afeto o dinheiro até compra de vez em quando (tem gente que vende né) mas o fod* é que a gente nasce com um sensor que identifica a verdadeira afeição e essa que faz falta. Te entendo perfeitamente.Mas e para ajudar será que posso dizer alguma coisa? Bem, não custa tentar. Aqui vai: primeiro deixe essa dor chata viajar fundo e extrapolar tudo. Chore, grite, peça ajuda e colinho, beba, converse, medite, enfim levante a bandeira de SOS! Se a dor não vai embora, pelo menos é reconfigurada. No xamanismo a gente aprende que quando não há o que fazer com a dor, é importante é vivê-la intensamente para no mínimo aprender com este momento. Sei que há momentos que "falta-nos um único ser e o mundo parece despovoado" (não lembro de que é a autoria) mas amigos são para essas horas. Então que tal dar um pulo lá em casa nesta última semaninha de férias e prometo te emprestar todo o meu repertório de musiquinhas "SAD" pra estimular o choro coletivo! O ombro também vai estar te esperando... Que tal fazermos um bom brigadeiro de panela, uns filminhos para a sessão deprê e conversamos até a dor ser tão gasta que já passou?Pra finalizar de verdade, vou te deixar com uma frase que um dia já me ajudou muito: "como as coisas boas da vida sempre passam, as ruins também vão embora".Se cuida e melhora tá!"


No closet

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"Todo barbudo é machista"*

quarta-feira, 22 de maio de 2013.
Ave Butler!

*ou "Exercendo o sagrado direito de generalizar e ser idiota"

Solanei...

Paulada feicibuquiana que resolvi dar em geral, inspiradx por essa maravilha de foto aqui:

(você sabe o que é "imberbofobia")

"Por falar em machismo, olha que coisa meiga SQN. 

Essa foto sintetiza muito bem o por quê de apoiarmos a campanha "Todo barbudo é machista (e todo fã de barba é cumplice)". Históricamente vemos que barba sempre foi o símbolo-mor de poder viril- o chamado "Chicote do Patriarcado".

Engana-se quem afirma que vivemos numa sociedade falocêntrica. Mentira! Sempre vivemos numa sociedade barbocêntrica. O ser viril e opressor não necessita jogar seu pênis sobre a mesa se seu falo simbólico fica pendurado debaixo do queixo.

Duvida?!? É só reparar as figuras de poder presentes em representações artisticas (desenhos, pinturas, afrescos, escultura) do Ocidente judaico-cristão-branco-mediterrânico, para constáta-lo. Todas as figuras de poder masculino, reis, dignatários, deuses, mestres, sábios... portavam barba como signo de superioridade moral, enquanto o imberbe era sempre o menino sem juízo, indigno de crédito ou o deus imoral. Com minimas excessões, como o Davi de Michelangelo, que é feito propositadamente imberbe para parecer um efêbo adolescente inexperiente.

Da mesma forma, a barba exprime um determinado fenótipo, branco e caucasiano. A existência ou ausência de pelos no corpo do homem varia de acordo om o lugar. Indios americanos não-miscigenados tendem a ter menos pelos que os europeus. Tanto que, dizem as fontes, os brancos ao chegarem por aqui, confundiram os locias com (adivinhem...) "mulheres" e "pederastas". Ou seja, campanhas pelo uso de barba são, além de violentamente machistas, racistas.

Então se vc curte homens com barba, beleza. Mas admita que vc está empoderando "O" simbolo de poder patriarcal por excelência. Não tem nada de "revolucionário" e "subversivo" nisso, pelo contrário trata- se duma milenar ferramenta de opressão cujo principal objetivo é impor autoridade sobre os "imberbes". Trata-sem tão somente de ajoelhar-se perante o cetro do macho-alfa troglodita dominador.

TODO BARBUDO É MACHISTA."



"Eu solano
tu aguentas
eles/elaas se zangam
Nós apanhamos"

Depois de ter exposto tal texto no meu Facebook,  recebi várias criticas, aliás muito boas, argumentando sobre a ressignificação da barba por grupos de contra-cultura, inclusive. Ótimos argumentos, não tenho como negar que a critica feita por grupos verdadeiramente revolucionários, como o Dzi Croquetes não era legítima, não tem como generalizar minha fala. Até porque este blog foi criado justamente para mostrar essas experiências e propor a quebra dos padrões de gênero.

Mas tenho recebido vários links, por exemplo apologizando a campanha imberbofóbica "Faça amor, não faça a barba" que demonstram que minha critica se aplica em muitos casos sim. Exemplo:

http://ocomico.net/10-motivos-para-nao-fazer-a-barba/

Vão dizer que o link é uma brincadeira, mas é muito divertido ver alguém te chamando de "idiota" e por que não dizê-lo, te rejeitando, só porque você não cabe no padrão estético. pior, é lindo ver "feministas radicais"  reproduzindo esse tipo de preconceito. E certamente é a elas que minha critica se dirige. Conheço vários homens barbados espetaculares, são meus amigos e até cumprimento eles na rua (kkk), mas quando entra em cena a opressão de gênero- como se o próprio gênero não fosse A opressão- vou sempre denunciar. Para grande parte de homens e mulheres, sim, o grande motivo para não fazer a barba é o machismo. E isso não é uma questão de barba ou não-barba ou uma simples questão de escolha, mas uma questão de poder.



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