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"Radicalização pra quem?" Sobre o tema do XIII ENUDSG

terça-feira, 13 de outubro de 2015.
Hail, Neken!

À seguir, uma tese a ser apresentada como discussão ao XIII ENUDSG- Encontro Nacional em Universidades sobre Diversidade Sexual e de Genero, na sua edição de 2015. Tem como objetivo aquecer o debate e demonstrar o por quê a absurda bandeira da "luta anti-capitalista" é inviável, retrógrada no interior dos Movimentos Sociais- e por que deve ser abolida das pautas do ENUDSG. O texto é muito grande para um blog (12 paginas de Word ao todo) por isso disponibilizarei em breve também em versão .pdf

Infelizmente, não foi possivel apresentar este tema "oficialmente" como matéria do Encontro, devido a questões de tempo e politicas (golpes e ameaças que prefiro nem denunciar). Mas fica como orientação para as proximas oportunidades.

Temas a ser apresentados:

+O mito da Esquerda Progressista
+Conjuntura dos Movimentos Sociais
+O Capital inclui ou exclui as minorias?
+Como o Estatismo atrapalha a luta por direitos.
+Hiro Okita; Como não se fazer História
+Mas o que fazer?
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“RADICALIZAÇÃO PRA QUEM?”- POR UMA MILITÂNCIA DE RESULTADOS.
(MANIFESTO E ANTI-TESE A SER DISCUTIDA NO PRÓXIMO ENUDSG)
                Por Dorothy Lavigne, militante trans e estudante de História pela UFRJ.  
                                  
  “Antes de querer mudar o mundo, limpe a sua casa”
(Provérbio chinês minimamente adaptado)

INTRODUÇÃO:

A organização do Encontro Nacional em Universidades sobre Diversidade Sexual e Gênero (ENUDSG) deste ano de 2015 surpreendeu-me, e à vários membros do movimento social com o tema panfletário "Radicalizando as Lutas: o Enfrentamento ao Cis-tema em Tempos de Crise", uma proposta coincidente com a posição de organizações partidárias (em especial do PSOL e PSTU) e colocada de forma autoritária, parecendo mais uma tomada de posição centralista que uma proposta de debate.

Importante logo de inicio pontuar que este tema e tais propostas, que incluem a mudança do nome do Encontro, e que dizem respeito a algumas das maiores polêmicas históricas no interior do movimento LGBT e que, longe de serem consenso, estão sendo postas na surdina, numa conjuntura de descrédito de organizações partidárias e esvaziamento politico, num momento em que militantes independentes temos tido a participação limitada nestes eventos pela negativa de Reitorias de viabilizar transporte, apenas como exemplo.

A luta anti-capitalista, tema exógeno que só vem atrapalhado na organização dos movimentos sociais foi colocada como um consenso que nunca existiu, é uma das maiores controvérsias políticas no segmento LGBT, desde sua fundação  e que está longe de ser resolvida. Pior, por trás da tal luta anticapitalista há uma intenção de fagocitar os movimentos sociais para alimentar os partidos. E mais greve, exclui dos espaços de discussão política quem discorda da dogmática marxista, silencia as oposições, muitas vezes com ameaças e apelando para calúnias e difamações.

Qual a necessidade prática do discurso anti-capitalista na atual conjuntura dos movimentos sociais? 

Que interesses, quais as estratégias que a denuncia da “exploração da mais-valia” nos apresenta, de forma viável e à curto prazo? Quais os direitos e deveres que conquistaremos culpabilizando a “burguesia”, ao invés de buscarmos soluções coerentes com o sistema político-econômico em que vivemos? Se o objetivo dos movimentos de minorias não é a inclusão na ordem capitalista, direitos e cidadania aos excluídos, qual mais o seria? Qual o caráter e as táticas de radicalização que se propõe e a quem isto serve? Como diz o famoso “meme” da Internet, “qual a necessidade disso?”. What’s the plan?

Estas são algumas questões que têm necessidade de ser melhor debatidas no próximo ENUDSG, antes de tentar impor qualquer  consenso e que me proponho e expor agora, sobre um prisma heterodoxo, mais liberal e arejado, coerente com o século em que vivemos. Formam um “rascunho”, um peça de construção gradual e que não está acabada.


O MITO DA ESQUERDA PROGRESSISTA:

Uma falácia muito comum é a de que a esquerda política representa a defesa das minorias, dos oprimidos, dos explorados, dos Direitos Humanos e Individuais e que isto a diferencia em relação a tal da direita. Mas não passa de construção discursiva vazia, maniqueísta, moralista. “Super Xuxa contra Baixo Astral”, como bem observou um colega nosso.

Antes de tudo é preciso definir o que vem a ser “esquerda”. Devido a um fenômeno bastante conhecido nas ciências políticas, denominado “Janela de Overton”, a definição de esquerda na América Latina é bem diferente dos EUA e da Europa. Por aqui a noção de esquerda se limita à grupos marxistas/anarquistas ortodoxos cujas principal bandeira é a defesa, `a qualquer custo, doa à quem doer (geralmente dói nos mais pobres e excluídos) da Revolução Proletária.

É por isso que nos EUA, um partido social-democrata, como o PSDB dificilmente angariaria votos, seria tachado de “socialista” (como de fato o é), enquanto no Brasil, o tucanato é visto como “direita conservadora”. Ser de direita ou esquerda é uma questão relativa, ou melhor, construção retórica cada vez mais em desuso que visa tão somente a generalização, estigmatização e o ataque moral de cada um dos lados. E no caso específico do Brasil nenhum dos lados se preocupou ativamente com a questão das minorias.

A Direita é tradicionalmente conservadora, racista, homofóbica, machista, gordofóbica... A Esquerda também.

Sobre a inutilidade desses rótulos, veja esse excelente video:



A esquerda ortodoxa classista ficou durante séculos denunciando os Direitos Humanos, baseados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Dos Direitos do Homem e do Cidadão, acusadas de construções de uma “Revolução Burguesa” e de uma “Organização Imperialista” (ONU), para iludir o proletariado e afastá-lo da luta de classes.

 A esquerda mundial começará a se interessar pela questão das liberdades sexuais apenas a partir do Maio de 68- movimento acusado por autores pós-modernos de excluir os homossexuais e as lésbicas- e no Brasil a partir de meados da década de 1980 (vide a seção critica á obra de Hiro Okita mais abaixo). Acusava-se os militantes do Movimento Homossexual da época de tentar perverter o proletariado com um “vicio burguês”.

A esquerda sempre secundarizou e continua de forma generalizada secundarizando as bandeiras dos movimentos de minorias em detrimento da causa operária e reduzindo-as á uma mera ferramenta para alcançar a revolução proletária e não como um fim em si mesmo.

Quando se trata de atacar a religião e a família “tradicional”, avança-se na “consciência da classe”. Faz uma gritaria contra o “monogamismo burguês”, visando-se apenas e de forma oportunista a demolição de uma das alegadas bases históricas do Capital e ignora-se as necessidades subjetivas e afetivas do individuo. Quando se trata de bater de frente com a cultura operária, que via-de-regra defende a mesma família e religião tradicional conservadora, retrocede-se. E assim não saímos do lugar.

Alguns partidos e organizações de esquerda brasileira continuam até hoje insistindo na idéia de que a homossexualidade perverte a classe trabalhadora, se juntando à vozes de fundamentalistas religiosos. Apregoam que se trata de uma “frescurice pós-moderna” assim como chamavam de “alienação hippie” a luta pela liberdade sexual nos anos 50/60. Continuam apregoando em pleno século XXI uma “liberação/igualdade sexual” que já caiu em desuso substituído pelo conceito de “diversidade”. 
E ainda acusam de “feminista burguesa”, quem meramente quer atualizar estes discursos anacrônicos.

Afirmar que a esquerda defende o direito das minorias é uma meia-verdade. Primeiro por que as definições de esquerda e direita são fluidas, elásticas, segundo que o movimento LGBT nunca foi de esquerda, mas aberto, diverso, plural. Na prática as esquerdas que sempre foram pioneiras nestas causas são a esquerda liberal e social-democrata, indo contra a corrente reacionária da ortodoxia classista.  Mas estes fomos tachados de “direitistas” exatamente por defender tais bandeiras.

Enquanto isso, chove denuncias de práticas machistas, racistas, homofóbicas e todas as opressões vindas de sindicatos, partidos e agremiações de esquerda e que são de pronto, mascaradas.

A esquerda classista continua a décadas roubando nossas bandeiras, nosso protagonismo. Se dizem defensores dos Direitos Individuais, mas são absolutamente contra o individualismo. É a esta esquerda, latino-americana, classista, (pseudo)revolucionária, anacrônica, moralista que me referirei em minhas criticas

CONJUNTURA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS:

Contamos hoje com a Assembleia Nacional e o Congresso mais conservador desde 1964, bancadas democraticamente eleitas pela maior parte do eleitorado e que representa com exatidão a mentalidade da tal “classe trabalhadora”.

Temos como um dos deputados mais votados Jair Bolsonaro, que se orgulha de suas posições “polêmicas” e se gaba de ter gasto uma “merreca” na sua campanha- de fato, não foram vistos mais que um carro de som e meia dúzia de panfletos no Rio de Janeiro (onde mora sua base), o que bota por terra a tese de que o grande capital orquestra as “eleições burguesas”. O brasileiro médio é “reaça”, nossas eleições são democráticas, com voto universal, ou seja, populares e o atual panorama político reflete exatamente esta realidade.

A conjuntura atual dos movimentos sociais no Brasil é de tal forma caótica, calamitosa, que está impossível a organização em torno de ideais em comum que não sejam aqueles impostos pelas lideranças da “velha política”, ou seja, a instrumentalização, o uso indevido feito buchas de canhão  das energias das minorias para o “bem maior” da alienígena causa operária/revolucionária.

Estamos amargando um clima de total despolitização criado pela “Dialética do Oprimido”, distorção da proposta anacrônica marxista da Luta de Classes para Luta de Raças, Gêneros, Religiões, criando massas de “revoltados”, prontas a dar a vida ao “grande ideal” ao mesmo tempo em que joga uns contra os outros para criar mais caos e atingir a ordem social. Efeito bola-de-neve. O problema é que muita gente inocente vai se ferir no processo sem saber por quê.

A idéia original da chamada “Interseccionalidade” era muito útil: permitir uma experiência aprofundada de alteridade na qual um grupo de oprimidos/excluídos pudesse entender as necessidades específicas e melhor se aliar ao outro por um bem comum. Na prática o que temos é uma briga entre lésbicas e gays, mulheres negras e brancas (excluindo ou deixando à margem do debate pessoas trans)- tudo com aplausos das lideranças esquerdistas, contanto que não contestem a sacrossantidade da luta operária e os sobreviventes do entrevero se voltem obrigatoriamente contra o Capital. Dividir para conquistar.

E ainda querem colocar “recorte de classe” no caldo para jogar bicha pobre contra bicha rica?! Eis a total falência do maniqueísmo marxista e do classismo. É com este Poderoso Exército de Brancaleone que as lideranças partidárias querem que tomemos de assalto as ruas, o Congresso, as Universidades e as Assembléias?

O CAPITAL INCLUI OU EXCLUI AS MINORIAS?

Um absurdo que está cada vez mais comum nos meios LGBT é que o capitalismo se beneficiaria das opressões para “dividir a classe”. Numa situação excepcional, como numa greve ou num levante, esta lógica poderia ser coerente, mas como a vida do trabalhador e do estudante não se resume à militância, estas situações são a excessão e não a regra.

Em situações normais, qual o empregador suicida que arriscaria desorganizar sua força produtiva, jogando funcionário contra funcionário, apenas para impedir que eles se organizem, colocando em risco seu honesto lucro? Aliás, “Impedir que se organizem” para quê?

De fato, os Mercados têm amargado prejuízos astronômicos que, segundo pesquisa do Banco Mundial, estão na casa dos bilhões de dólares anuais apenas na India [1].É justamente para impedir que os trabalhadores se degladiem  e botem em risco a produção que se investe pesadamente em campanhas de sensibilização, promoção do bem-estar e inclusão das minorias. “Trabalhador satisfeito rende mais”.

Outro argumento absurdo que se insiste em repetir é de que o Capítal se aproveita dos estigmas para impor às minorias os postos de trabalho mais insalubres. É preciso antes de fazer tal afirmação, definir o conceito de “insalubridade”. Do ponto de vista tanto do esforço físico, quanto do assédio moral baseado na LGBTfobia, estamos ficando com os serviços mais leves e em alguns casos, melhor remunerados,  os de “profissionais liberais” (esteticistas, professores, atendentes de telemarketing...). E isto se deve á um perfil estereotipado de que gays, lésbicas e trans, temos menos força física, maior sensibllidade e facilidade comunicativa.

Na prática não é o Mercado que nos impõe estes cargos, mas somos que nós que os buscamos, crentes na idéia que a “peãozada” nestes espaços é menos preconceituosa e violenta com as minorias. Mais uma vez, trata-se de uma questão de cultura, uma visão conservadora imposta pelos “90% mais pobres”, que coincidem com a maior parte dos trabalhadores e consumidores e não uma conspiração burguesa para explorar mais a força de trabalho.

Se o sistema realmente se beneficiasse da opressão das minorias para conseguir mão-de-obra qualificada e mais barata, poderíamos ficar sossegados, pois é exatamente esta força de trabalho mais barata que o empregador dispensará por ultimo em tempos de Crise.

Críticos do Capital e do Mercado geralmente se esquecem que por trás de cada operário “explorado” existe um consumidor “explorador”. O “peão” que violenta seus companheiros “viados” nas fábricas é o mesmo que se nega a tomar cerveja no restaurante na saída do trabalho por que lá tem bichas no balcão de atendimento, o que força o patrão a despedir seus funcionários para não ter que fechar as portas. “O cliente sempre tem razão”- e via-de-regra o cliente é um operário conservador.

O capitalista nada mais é que um profissional que sobrevive vendendo para seus clientes o produto que eles desejam adquirir. Se o produto que o brasileiro médio deseja é o preconceito, é isso que ele venderá, pois a sua sobrevivência e de sua família é mais importante que ideologias. Como qualquer pessoa honesta o faria. Ou o produtor se adequa ao consumidor ou procura outro nicho, ou morre. É assim que funciona o Capital.

Ao mesmo tempo é patente que as empresas têm cada vez mais apostado em novos nichos consumidores, o que leva invariavelmente á geração de empregos para grupos historicamente discriminados. Afinal, quem consome precisa de dinheiro e os capitalistas só conseguem expandir mercados, permitindo acesso de um numero maior de pessoas ao consumo, gerando justiça social. E não “pelos nossos belos olhos”, ou devido às dádivas de algum avatar iluminado que queria nos governar.

Na prática, os únicos que ganham com as opressões são políticos demagogos, partidos e organizações (pseudo)revolucionárias que  precisam  fabricar insatisfeitos, revoltados kamikases prontos a pegar em armas para defender suas ideologias. E a própria ‘classe” que insiste em usar os preconceitos que traz de casa para atingir a concorrência, indo na contra-mão do progresso.

Outra grande falácia é apontar uma suposta higienização dos LGBT das classes dominantes. Negativo. Higienização não vê classe social. A bicha rica precisa se higienizar para não perder seu status quo e a pobre precisa dela meramente para sobreviver (arrumar e se manter num emprego). Por outro lado, os pobres conseguem algum nivel de subversão da ordem por não ter nada a perder, enquanto os mais ricos se utilizam do Capital (ou da mesada) para tal fim- e de forma fetichizada. Mais um exemplo no qual a análise classista/economicista só turva o conhecimento em detrimento de uma boa análise pós-moderna, culturalista, pós-estruturalistas.

Está sobrando “marx-achismo” e faltando aprofundamento na discussão das relações horizontais a partir da micropolítica, das relações cotidianas.

 COMO O ESTATISMO ATRAPALHA A LUTA POR DIREITOS.

Um grande exemplo de como o excesso de intervencionismo estatal em detrimento da Liberdade Individual de Mercado- e isto inclui o seu ápice, o cúmulo autoritarista da economia planificada ( nunca passível de ser posta em prática)- é um empecilho ao acesso aos direitos fundamentais dos LGBT pode ser o falido Processo Transexualizador pelo SUS.

Como na lógica socialista a satisfação das necessidades e desejos do cidadão fica por conta do Estado centralizado, a decisão final sobre quais intervenções médicas, cirúrgicas, psíquicas sobre os corpos e mentes fica por conta de governos que precisam se render à moralidade de seu eleitorado e contribuintes. O Estado não está disposto a pagar por estes serviços, principalmente em época de crise econômica internacional e muito menos se isto significar perda de apoio de sua base política, que como afirmamos, é profundamente conservadora.

Na prática isto significa restrições absurdas e a imposição de uma equipe interdisciplinar inexistente na maioria das cidades, além da criação de vários obstáculos jurídicos para esta população, visando fazer com que desistam dos tais tratamentos, o que inclui a reafirmação da patologização da transexualidade como “estratégia de inclusão” (totalmente equivocada) ao Sistema de Saúde.

A solução parece ser óbvia: deixar o Processo Transexualizador para ser paulatinamente explorado pelo Mercado. Se o Estado não tem interesse em atender a este publico, o Mercado tem esta necessidade. Gera lucro para os empresários- com a indissociável geração de riqueza e renda,  aprimoramento das técnicas e tecnologias mais baratas, retira os empecilhos jurídicos e morais, os custos tendem a cair junto com os preços, exatamente como ocorre com cirurgias plásticas, aumenta o acesso, sobretudo das pessoas pobres que desejam estes serviços, gera uma popularização das práticas e trás à rebote  a quebra de preconceitos.

Qual a proposta, a fórmula milagrosa que os socialistas apresentam como opção? Mais Estado?! Mais Estado dicernindo autoritáriamente sobre nossos corpos, mentes e identidades?

HIRO OKITA: COMO NÃO SE FAZER HISTÓRIA.

Grande parte dos erros e mitos construídos pela esquerda brasileira, em sua fúria anti-capitalista incoerente e inconseqüente se baseiam no panfleto anacrônico de um tal  Hiro Okita, “Homossexualismo, da Opressão à Libertação”, um libelo amador publicado em 1981, e que se propõe a mostrar uma visão classista do Movimento pela Emancipação Homossexual.
Pouca coisa foi atualizada neste texto desde então, basicamente modificaram a menção a “homossexualismo” no original, para “homossexualidade” e nada mais. Marxistas ortodoxos continuam preocupadíssimos em “avançar na consciência da classe trabalhadora” até ao inicio dos anos 80(!)- quem sabe um dia, consigam tal feito.

Ignoram que de lá pra cá passamos pela imposição de um modelo econômico baseado no Capitalismo de Estado, Esquecem a importância da pandemia de AIDS/HIV na construção do movimento organizado, responsável esta pela cooptação do movimento LGBT PELO ESTADO.Ignoram a importância das contribuições dos autores ditos pós-modernos- acusando-os de “neoliberais” (seja lá do que se trate). Negam, quando não sabotam propositadamente, tentativas de mudar paradigmas de gênero que vão contra a moralidade proletária/revolucionária, como Teoria Queer e meterossexualidade...

A tal obra de Okita é tão absurda, tão anacrônica, tão desatualizada, que resolvemos por apresentar apenas alguns erros teóricos e historiográficos:

HAVIAM HOMOSSEXUAIS NA GRECIA CLASSICA E NO MEDIEVO EUROPEU:

Anacronismo. O que a maioria dos autores se refere ao falar sobre os gregos geralmente é uma instituição cultural de caráter pedagógico chamada “paederastie”, na qual um homem mais velho (“erastes”) iniciava um mais jovem (“eromenos”), ambos das classes altas. O que entendemos hoje como homossexualidade, a relação livre entre duas pessoas de mesmo gênero,  é um conceito pós-moderno que só foi possível depois da despatologização na década de 1990 e que coincide com o descrédito mundial do socialismo e o avanço do Capitalismo de Estado.

ESPARTANOS APOIAVAM A HOMOSSEXUALIDADE:

Pelo contrário, no clássico Origem da Familia, Engels culpabiliza a sodomia dos gregos pela coisificação das mulheres em toda Grécia ao passo que elogia a virilidade dos espartanos. Coerente, pois ele via na cidade-estado guerreira um protótipo exemplar para o método da revolução armada.
Aliás, segundo Xenofonte (A Constituição dos Lacedemonios, fonte na qual Engels provavelmente se baseou em suas criticas) Esparta não era apenas homofóbica, mas altamente machista, pois impunha um pesado treinamento militar à mulheres com o único fim de que elas concebessem filhos mais saudáveis, braços mais fortes ao exército.

A CRITICA À HOMOSSEXUALIDADE COMO “VICIO BURGUÊS” É UMA INVENÇÃO STALINISTA:

Embora a expressão “vício burguês” tenha sido criada à posteriori, já havia uma serie de acusações e perseguições aos desviantes sexuais, orquestradas pessoalmente por Engels e Marx no século XIX. Consta que Engels pediu a expulsão do Partido de um militante de alto escalão Jean Baptist Von Schweitzer, por este ter sido pego em relação sodomita. Marx acudiu ao companheiro ao perceber de quem se tratava. Já existia vista-grossa naquela época.

Aliás, “estalinismo” nada mais é que a boa e “velha falácia do escocês”, tentativa de jogar a culpa da derrota da Revolução Bolchevique nas costas do grupo vencedor, ignorando a carreira política de Stalin e a cumplicidade inicial dos Bolcheviques, Lenin e Trotsky, quando este grupo chegou ao poder

A REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE DESCRIMINALIZOU A HOMOSSEXUALIDADE.

Okita e seus seguidores se baseiam num ‘importantíssimo” trecho de panfleto cuja autoria se deve a um tal Dr. Grigory Batkis. Para comprovar esta importante tese, a esquerda se utiliza de fontes de terceira mão (!). “Um primo do vizinho me disse que viu...” O texto não diz absolutamente nada sobre descriminalização, até porque o próprio Okita admite que não havia nenhuma lei anterior sobre o tema. Se resume a dizer que todas as formas de sexualidade/afetividade seriam igualmente válidas (desde que consentidas) e que o Estado não deveria intervir- quando deveria, sim.

Na prática a Revolução de Outubro criminalizou os desvios sexuais ao nível da micro-politica, fazendo vista-grossa aos crimes e perseguições no interior do Partido e nas fábricas. Não havia garantias de defesa civil a estas populações, nem mesmo de discusssões publicas, não passava de “lava-mãos”, um “cala-te- boca”, e nesse sentindo é idêntica a jurisdição brasileira, “da pátria Educadora que não faz propaganda de opção sexual” ou da Russia de Putin, na qual vemos LGBTs sendo torturados impunemente diante das lentes do Youtube, por que o Estado não pode intervir.
Importante lembrar que as definições de violência simbólica e psíquica vieram muito tempo depois, portanto sendo cronologicamente impossível que a opinião “tão relevante para a historiografia” do tal Dr.Batkis, cobrisse tais casos.

O “SOMOS” FOI O PRIMEIRO GRUPO ORGANIZADO DO BRASIL.

Primeiro é preciso definir de que se trata um grupo organizado. No Brasil já existiam iniciativas importantes desde pelo menos a década de 1940, como o famoso Grupo OK, entidade formada por homens que se reuniam para praticar o que chamaríamos hoje de “crossdressering”, se vestiam como mulheres e de forma lúdica subvertiam a ordem heterocisnormativa da época.

Como o próprio Okita admite, o SOMOS- Grupo de Afirmação Homossexual- é fruto de um “racha classista” no interior do movimento gay que já existia, era um pequeno grupo radical ligado ao Convergência Socialista (coletivo de onde saíram o PT, e depois PSOL e PSTU). Sequer poderia se reivindicar como primeiro grupo de inspiração marxista, pois polemizava com o grupo do Lampião da Esquina, que já nos anos 70 fazia excelente discussão interseccional, dialogando a questão homossexual com temas de classe, raça e combate ao machismo.

O “SOMOS” FOI BEM SUCEDIDO NA ALIANÇA COM O OPERARIADO.

Na verdade o SOMOS foi vergonhosamente derrotado, tanto que desapareceu depois que Okita escreveu seu panfleto. O cavalo-de-batalha de certos grupos radicais é afirmar que os militantes do SOMOS foram recebidos com salva de palmas, flores, papel picado, rojões pelos sindicalistas nas históricas greves do ABC. Mas as fontes, os documentos da imprensa especializada, apontam exatamente para o contrário.

Na decantada revista Lampíão da Esquina foram publicadas pelo menos duas Moções de Repúdio aos sindicatos e à Convergência Socialista, descrevendo com detalhes todo ódio e nojo dos lideres operários, a forma como usavam da moralidade sexual proletária para retirar das bichas do SOMOS o direito de fala.

Além disto, há uma reportagem de capa denunciando as falas anti-homossexuais do maior líder grevista de então, Luis Inácio da Silva, que afirmara em defesa da homofobia sindical que “não havia gueis na classe trabalhadora”. E infelizmente ele estava correto, em pleno século XXI ainda não estamos proletarizados devido a esta mesma LGBTfobia.

Antes tivessem ido ao Zoológico fazer piquenique, encarar de frente a cultura proletária conservadora e subverter a heterocisnormatividade da sociedade, como propunha o restante do movimento organizado que não havia se rendido à ideologia classista radical. Teriam se juntado ao grupo que teve mais êxito, maior sucesso como protagonista histórico.
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É preciso terminar com uma questão sobre o sentido da História na dialética (ou diria melhor, “convenientética”) marxista.

Com os autores positivistas apreendemos que a história tem um sentido de aprendizado, Historia Magistra Vitae ( “A História é a Mestra da Vida”), precisamos aprender com os erros do passado para não repeti-los no presente. Ao tentar culpabilizar o stalinismo pela perseguição das minorias, esquecem de pensar de que forma Stalin, “aquele sacripantas traidor da classe operária”, chegou ao poder. Ou seja, “a História nunca se repete, façamos uma nova Revolução nos mesmos moldes da de 
1917, que dessa vez magicamente dará certo”.

Porém os que afirmam que a história não se repetirá, que um novo genocida não tomará o poder como a 100 anos atrás- sem explicar como se dará o milagre (haja fé!) são exatamente os mesmos que tentam monumentalizar uma Revolução Gloriosa na qual as minorias serão todas respeitadas, empoderadas,  por intervenção de uma casta de avatares iluminados que subirão a ribalta do Poder e por graça da Fada Sininho.

Afinal, a História se repete ao não? Decidam-se. Para quê recriar de forma tão patética um passado que nunca existiu e que certamente jamais se repetirá?

MAS, O QUE FAZER?

A seguir apresenta-se tópicos com sugestões de encaminhamentos de bandeiras de luta a serem defendidas pelo Movimento LGBT Universitário.

1)      Protagonismo histórico Individual. Basta de vitimismo! NÃO somos vermes, nem capachos, somos cidadãos conscientes, eleitores, consumidores, protagonistas de nossa própria luta. Não somos nem aceitamos que nenhum partido ou coletivo nos use como massa de manobra. Numa sociedade globalizada temos poder de voto e de veto e é assim que marcharemos, não como “coitadinhos oprimidos pela burguesia”. Não se ganha nenhuma guerra de cabeça baixa.

2)      Militância de Resultados. Chega de tiro no pé! Precisamos atualizar táticas e estratégias. Precisamos nos livrar desse estorvo classista no interior dos movimentos sociais e deixar parar trás táticas já desgastadas, como os “beijaços”, que na pratica estão reproduzindo transfobia, racismo e outras formas de opressão, quando não fetichizam a homossexualidade ou são usados descaradamente para promover candidatos ou causas que nos  SAP alheias. Lancemos mão do que funciona: o boicote. Não faz o menor sentido, ao sermos maltratados num bar, voltarmos lá com mais gente para consumir. O movimento precisa ser mais sério- menos festa e mais luta.

3)      Lutas por dentro da lógica do Capital: Com tudo que já foi exposto neste Manifesto, o capitalismo é históricamente o sistema sócio-econômico que melhor inclui e empodera as minorias, exatamente por funcionar de forma livre, espontânea, de pessoas para pessoas. Indiferentemente disto, queriam ou não, é preciso aceitar que é este o sistema que define as regras de interação social em todo planeta na atualidade. È preciso reconhecer estas regras para melhor organizar estratégias para alcançar direitos e cidadania. Pensar diferente disto, protelar nossas bandeiras para depois de uma hipotética Revolução Socialista, é militar contra as minorias.

4)      Resgatar o caráter liberal do Junho de 69: A gana anti-capitalista de certos grupos é tamanha que chega-se a negar que o grande estopim para os famosos Motins do Greenwich Village, foi justamente a proibição por parte do “braço armado do Estado” para que os gays frequentassem os bares da região e se vestissem da forma que quisessem- ou seja, direito à liberdade de consumo. Se a mão invisível do mercado no sustenta desde aquela época é por ela que virão ainda mais direitos. Aliança com as empresas gayfriendly! Esta deve ser nossa estratégia.

5)      Abaixo o oportunismo classista e identitárista! Nossas bandeiras históricas não são contra uma “classe burguesa”- até por que a maioria dos Universitários e militantes LGBT somos “burgueses” ou profissionais liberais (pequenos burgueses). Nossa luta é pelo direito de ser e amar livremente á quem quisermos e não para nos incluir numa letrinha.  Movimentos sociais são grupos de pessoas que se unem estratégicamente para defender bandeiras em comum, que no nosso caso é a inclusão de estigmatizados e não o empoderamento forçado do operariado opressor.

6)      Radicalizar para dentro: A conjuntura atual aponta para a impossibilidade de avanços concretos no embate direto com políticos conservadores à direita e à esquerda no Congresso. Ao mesmo tempo, grupos oportunistas tentam de todas as formas, apelando para golpes e táticas autoritárias instrumentalizar os movimentos de minorias para aumentar os quadros de seus partidos. Se a correlação de forças impede este embate externo, o momento exige uma radicalização na limpeza de nossa casa. “Expulsar, anular os interesses político-partidários no interior dos movimentos sociais”- esta deve ser nossa palavra-de-ordem.

7)      Fora partidos, sindicatos e coletivos instrumentalizados pelos mesmos! Movimento de minorias é para auto-organização de minorias, não para desfilar bandeiras e ideologias estranhas aos interesses desses movimentos. Principalmente quando tais partidos são financiados/agregados por organizações internacionais que desconhecem nossa realidade local, fazem “centralismo cupulocrático”, impõe sua política de cima a baixo sem discutir com a base e ainda se negam á fazer discussão aprofundada sobre gênero e sexualidade. Pìor, quando tiram nosso direito de fala e homenageiam personagens/organizações históricas reconhecidamente homofóbicas, racistas e machistas (como o MST e Che Guevara).

8)      Movimento horizontal e individualista: Mais que horizontais, movimentos sociais devem ser tocados por indivíduos, por militantes independentes que têm interesses em comum. Movimento não se faz pela base, eles SÂO a base. Se um movimento social divide seus quadros entre base e lideranças, já não são horizontais, estão burocratizados e cupulatizados. “Nós por nós”!A menor minoria que existe é o individuo, ser contra o indivíduo e ser contra todas as minorias.

9)       Abaixo a macro política populista e personalista!  Basta de bandeiras antidemocráticas alienizantes que culpabilizam figurões da política para estrategicamente desresponsabilizar suas bases, a  sociedade civil. È perda de tempo chamar campanha “Fora Cunha”, quando Bolsonaro já disse que tomaria seu lugar e enquanto as travestis continuam se prostituindo a contra-gosto e sendo mortas pelos operários que elegem estes politicos. È anacronismo ingênuo em pleno século XXI esperarmos por Salvadores da Humanidade que resolverão nossos problemas e sanarão nossas necessidades.

10)   Movimento de minorias só se faz pela micro-politica. Nossa missão histórica não é denunciar, bater de frente com lideres ou instituições, como a polícia-fardada, menos ainda com uma inalcançável superestrutura, mas sensibilizar nossos vizinhos, colegas de faculdade, parentes sobre a violência LGBTfóbica- “trabalho diário de formiguinha” que intervém diretamente na realidade concreta. Precisamos mais que nunca de uma militância de resultados e não de ideologias de longo prazo. Revolução é mudança de paradigma, fazer com que as pessoas mudem sua forma de pensar.

11)   Financiamento exclusivamente privado. ”Quem paga a banda escolhe a musica” e já estamos cansadxs de financiamento de governos corruptos, de máfias e de políticos LGBTfóbicos. Quem deve financiar nossos eventos é quem tem intenções reconhecidas: as empresas que buscam o lucro honesto e a melhoria da sociedade apoiando nossa causa, e jamais sindicatos machistas e LGBTfóbicos.. “Quem paga a banda escolhe a musica”  e a Sinfonia do proselitismo e da instrumentalização já acabou.
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 [1]"Homofobia: bom para quem? Estudo realizado pelo Banco Mundial testa modelo econômico quantifica os prejuízos ocasionados pela homofobia” Disponível em: http://www.bayerjovens.com.br/pt/fique-ligado/mundo-jovem/visualizar/?materia=homofobia-bom-para-quem. Visualizado pela ultima vez em21/10/2015



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